04 dezembro, 2007

Que nem Isadora

"The finest inheritance you can give to a child is to allow it to make its own way, completely on its own feet."
Isadora Duncan

23 novembro, 2007

08 novembro, 2007

Arts is all the things that the rest of life is not

"The arts matter because they are universal; because they are non-material; because they deal with daily experience in a transforming way; because they question the way we look at the world; because they offer different explanations of that world; because they link us to our past and open the door to the future; because they work beyond and outside routine categories; because they take us out of ourselves; because they make order out of disorder and stir up the stagnant; because they offer a shared experience rather than an isolated one; because they encourage the imagination, and attempt the pointless; because they offer beauty and confront us with the fact of ugliness; because they suggest explanations but no solutions; because they present a vision of integration rather than disintegration; because they force us to think about the difference between the good and the bad, the false and the true. The arts matter because they embrace, express and define the soul of a civilisation. A nation without arts would be a nation that had stopped talking to itself, stopped dreaming, and had lost interest in the past and lacked curiosity about the future."
Jonh Tusa

28 outubro, 2007

Questionamentos

"Por quanto sofrimento precisamos passar para que consigamos abrir os olhos e ver?"
Questão colocada por Fernando Meirelles ao terminar de ler 'Ensaio sobre a Cegueira' de José Saramago.


"Quantas crianças a gente tem que perder pro tráfico só pra um playboy enrolar um baseado?"
Comentário do Capitão Nascimento no filme 'Tropa de Elite' escrito por José Padilha, Bráulio Mantovani e Rodrigo Pimentel.

Catarina em Batismo de Sangue



Compilei a participação da Julieta no filme do Helvécio Ratton.

17 outubro, 2007

16 outubro, 2007

Chorou uma lágrima azul, como azul era o mundo, porque o mundo é feito só de lágrima.
Quando atingisse o chão seria seu fim.

14 outubro, 2007

Fragmentos #2

Antônio tinha seu trabalho exposto nos maiores museus do mundo, Louvre, Reina Sofia, British Museum etc. Não há quem veja Da Vinci, Vermeer, Picasso ou Van Gogh e não dê uma olhada na obra de Antônio. Não virou um ícone como os demais, morreu sem ter muito dinheiro nem reconhecimento. Mas era feliz, entendia sua posição. E tinha sim admiradores, sua mulher e seu filho. Um dia o filho de Antônio levando seus próprios filhos ao museu, mostrou orgulhoso:
- Olha meninos, outra obra de seu avô.
Um espertinho que passeava com a esposa, apressou-se em comentar:
- O senhor deve estar enganado este é um Caravaggio.
Humilde, retrucou:
- Não senhor, não falo do quadro, falo da moldura.
O homem se envergonhou e logo, pondo reparo na bela e elaborada moldura elogiou:
- Muito bonito o trabalho do seu avô meninos. - E nunca mais olhou para um quadro sem observar sua moldura e pensar na pessoa que a teria feito.

Fragmentos #1

Entrou em trabalho de parto no metrô, entre duas estações. Sua respiração ficou curta, ofegante e ressonante. Um filete de água saía dos seus pés, passando pelos pés da filha de oito anos e escoava pela fresta da porta. A filha que em breve deixaria de ser unigênita, gritou baixo e agudo. Logo todos os olhares do vagão se voltaram para a mulher oriental de proeminente barriga. Ninguém sabia bem o que fazer. O polaco que tomava uma lata de cerveja pensou em oferecer um gole à mulher, já não raciocinava bem após a décima-sexta latinha. Tomaria a de número dezessete, sentado no banco de uma estação que não era a sua, mas afinal qual seria seu destino? O rapaz que carregava um buquê de flores vermelhas tomou o cuidado de colocá-lo, delicadamente, sobre um banco vazio,antes de se aproximar da gestante. Mais tarde, a namorada recente custaria a acreditar em tal desculpa por não ter recebido nem flores, nem nada, no seu aniversário de um mês. No Natal o bebê provaria chocolate pela primeira vez, sua irmã mais velha, nunca teria filhos, marcada pelo trauma do parto na estação. Muitos meses depois, um cão, filhote ainda, ao passear com seu dono, um negro calado e triste, ficou ouriçado com um cheiro inédito que sentiu num vagão qualquer.

12 outubro, 2007

A morte e a morte de Paulo Autran

Um dia, cheguei no TU mais cedo para a aula e um rumor corria a escola; Paulo Autran havia morrido. Num escola de teatro tal acontecimento causa comoção. E não se falava em outra coisa. Até que surgiu o boato de que Lacraia (!) também tinha morrido.
Falando com Linares, o diretor, ele se limitou em dizer, Grande perda para o Teatro. Vale lembrar que o texto que fiz para o monólogo de teste para entrar no TU foi da peça "Liberdade" originalmente escrita para o ator. Após a aula saímos, vários alunos, fomos ao Quase Nada. Julieta ainda era somente minha amiga, neste dia se não me engano a Duda veio encontrá-la para sairem, as amigas. Na mesa do bar fizemos um brinde ao Paulo Autran.
No outro dia confirmou-se que ele não tinha morrido era nada. Estava vivo e ativo. Nunca se soube quem começou o boato, como ou porquê. Cheguei a vê-lo no palco por duas vezes. Uma peça com Cecil Thiré, "Variações Enigmáticas" e seu monólogo "Quadrante". Aliás, sob o mesmo título, Paulo Autran apresentava um quadro na rádio BandNews. Esses três minutos enchiam de arte e emoção (além de admiração) meu trajeto de fim de tarde, do trabalho para casa. Por mais de um ano ouvi as crônicas, poemas e contos de diversos autores na voz deste gênio da interpretação, diariamente, às 17:15.
Agora estou em Londres de onde pensei em ouvi-lo via internet. Ainda não tinha feito isso, até que vejo num site qualquer a notícia da morte de Autran. Agora sim ele se foi, aos 85 anos, deixando um legado importantíssimo, e a certeza de uma vida bem vivida. Tentem ouvi-lo no site da BandNews.
E vamos ao Teatro!

06 outubro, 2007

Acaso

Andando distraído, conversando sobre celebridades, me deparei com
Dustin Hoffman num set de filmagem!

update: de costas é a
Emma Thompson.

16 setembro, 2007

Pequenas Lembranças #9

Palavras

Mal era alfabetizado. Para mim existiam duas coisas diferentes, o espaço; lugar entre uma coisa e outra, e o espacio; onde ficam os planetas e estrelas, Espacio Sideral.

E ainda achava que o líquido que corre em nossas veias e artérias se chamasse sangre. Mais tarde, refletindo sobre, vi que pensava assim por causa do verbo sangrar e mais recentemente descobri que é assim que dizem em espanhol.

13 setembro, 2007

Série séries #8

Felicity

Gostei muito desta série. A história de Felicity causou em mim grande empatia. Vivi situações muito semelhantes às da protagonista, entrei na faculdade junto com ela e me formei também.
A fotografia é mais dark, mas de uma beleza que me fascinava.
O criador do programa é J.J. Abrams(Com Matt Reeves), sim o mesmo de Lost!
Vale a pena conferir a história de Felicity (a bela Keri Russell), Ben (Scott Speedman) e Noel(Scott Foley).
Perdi a última temporada, mas sei que há coisas meio sobrenaturais, um dia ainda vejo.
Abaixo o vídeo da abertura da primeira temporada.

10 setembro, 2007

Hai-kai #7

Cuidar dos seus
algo que se deve valorizar
contar com família e Deus

3/03/2005


Sua imagem estivera por horas refletida
sem embargo, naturalmente, sumiu.
Será que Alice atravessou o espelho?


4/03/2005

Destroços de uma paixão
Descontrole da emoção
Desmancha em cacos o coração


5/03/2005

03 setembro, 2007

Pequenas Lembranças #8

Mágico

Quando era bem pequeno tomava banho junto com meu pai, sei disso, mas não lembro muito mais do que suas mágicas. Sim, durante o banho, ele fazia truques de mágicas que faziam coisas desaparecerem de suas mãos para surgirem depois em outra parte. Tudo guiado pela musiquinha, à guisa de palavra mágica; Laim-ah-ra. Talvez nessa época achasse mesmo que meu pai fosse mágico. Ficou o momento.

28 agosto, 2007

Série séries #7

Friends








Difícil não gostar de Friends. Foi talvez a série em que mais me viciei. Esperava ansioso pelos episódios inéditos de terça-feira e ainda assistia diariamente às reprises.

São os amigos que qualquer um queria ter, bonitos simpáticos. As situações que vivenciam são menos marcantes e reais que as de Seinfeld, mas não menos deleitosas para o espectador.

Nova Iorque se fazia, na série, extremamente atraente, na figura do inverossímil Central Perk (os autores brincaram com isso algumas vezes, uma vez os amigos entram e não encontram lugar para se sentar e partem desconsolados, em outra Chandler expulsa uns garotos que se sentaram no sofá deles.)

Seus criadores são David Crane e Marta Kauffman (de outra serie de que gosto) fizeram dos seis personagens principais ícones pop (os atores chegaram a ganhar 1 milhão de dólares por episódio) e criaram uma grande saga em dez temporadas.

23 agosto, 2007

Hai-kai #6

Uma volta, uma ida,
um destino traçado além.
Uma incognita chamada vida.


28/02/2005

Jesus fazia teatro
o deserto foi seu palco
Deus seu diretor


1/03/2005

Do passado uma figura
que envelhece e se esvai, mas,
num rincão de memória, perdura.


2/03/2005

15 agosto, 2007

Pequenas Lembranças #7

Furos

Um dia chegou no apartamento da rua Amparo um ser pequeno e careca. Era o terceiro deste tipo. Desta vez mais magro, de choro mais estridente, desta vez menina. Passaram pouquíssimos dias de sua chegada, talvez nem um completo, e entrou uma enfermeira no quarto de meus pais, onde ficava o bebê. Haviam me adiantado o que iria acontecer, fiquei de espreita na sala adjacente e de lá ouvi o choro e os dois estampidos secos que furaram os lóbulos da minha irmã, a quem chamaria Dedeza, Dedê, Pitinina, e hoje simplesmente Andreza. Saiu do quarto com um brinquinho de ouro com, salvo engano, uma pequena pérola, em cada orelha.

Por mais que me dissessem que não doía, me causava espanto que fizessem algo tão bruto a um ser tão pequenino e frágil.

09 agosto, 2007

Ramones no CBGB's


Quisera estar ali.
Um momento seminal, de vanguarda.
Energia em seu estado puro, feita em música.

08 agosto, 2007

Hai-kai #5

Pra mim chega
Eu não agüento mais
Eutanásia

24/02/2005

Se eu pudesse ficava ali
mas meu tempo acabou
o que de bom ficou não tem fim

25/02/2005

Uma festa da Industria e do Capital
e seus artistas em breves momentos
de protesto velado e beleza transcendental

27/02/2005

02 agosto, 2007

Terra

“Parecia tão frágil, tão delicada, que se tocasse com o dedo ela ia esfarelar e se desmanchar.” Isso é de James Irwin, membro da tripulação da Apollo 15.

O astronauta Loren Acton disse tê-la visto “contida no revestimento fino, móvel e incrivelmente frágil da biosfera.”

Para Aleksei Leonov, o primeiro homem a andar no espaço, a Terra parecia “comoventemente sozinha.”

E quando o controle de terra perguntou a Vitali Sevastyanov o que ele viu, ele respondeu, “Meio mundo à esquerda, meio mundo à direita, posso ver tudo. A Terra é tão pequena.”

Neil Armstrong disse, “Levantei o polegar e fechei um dos olhos, e meu polegar ocultou o planeta Terra. Não me senti um gigante. Me senti muito, muito pequeno.” E Neil Armstrong mencionou um sentimento que era “complexo, implacável.”

E Ulf Merbold: “Pela primeira vez na vida, vi o horizonte como uma linha curva, acentuada por uma fina camada de luz azul-escura. Sua aparência frágil me aterrorizou.”

Em 18 de março de 1965, Alexei Leonov saiu da cápsula principal da Voskhod2 empurrando-se de cabeça pela abertura. Um cordão de segurança de cinco metros o prendia à nave. Se arrebentasse, ele vagaria para sempre. Embora a espaçonave estivesse viajando em grande velocidade, não havia ar correndo ao redor para que ele pudesse senti-lo. Ele girou devagar por dez minutos. Mas quando o co-piloto Belyayev ordenou-lhe que voltasse, ele não quis retornar.

Alguns meses depois, Edward White andou no espaço por 20 minutos, embora o termo seja enganoso, pois o movimento é de queda livre ou flutuação. Vista a 25 quilômetros de distância, a terra era quase incaracterística. Quando voltou para a espaçonave, ele tinha perdido 5kg de massa corporal e 2kg de transpiração tinham se acumulado em suas botas. Mas ele também não quis retornar à cápsula. Quando recebeu ordem de voltar à nave espacial, ele disse, “Esse é o momento mais triste da minha vida.” Seu co-piloto o puxou de volta. Em 27 de janeiro de 1967, dois anos depois de sua caminhada no espaço, Edward White morreu num incêndio no Complexo de Lançamento 34 da Estação Aérea do Cabo Canaveral. Ele tinha entrado na Apolo 1 para uma contagem regressiva simulada, junto com o Piloto de Comando Grissom e o Piloto Roger Chaffee, quando o incêndio começou. Anos depois, a esposa de White tirou a própria vida.

31 julho, 2007

Hai-kai #4

A memória do vermelho,
onde aprendi a ver
o rosto do ator no espelho.


21/02/2005

Medo do escuro, medo do silêncio
Pedia a Deus por luz
Recebeu muita música

22/02/2005

Branca de neve
Alva de pele
Alvo da peste

23/02/2005

23 julho, 2007

Manoel de Barros

MEMÓRIAS INVENTADAS: A INFÂNCIA

O Apanhador de Desperdício


Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não uso das palavras

Fatigadas de informar.
(...)

Dou importância às coisas desimportantes

E aos seres desimportantes
(...)
Prezo a velocidade

das tartarugas mais do que as dos mísseis.
(...)

17 julho, 2007

Os Incompreendidos



Pequenas Lembranças #6

Nomes


Eu me lembro – e esta é uma de minhas lembranças mais antigas, com data marcada – de estarmos deitados minha mãe e eu em sua cama, e discutíamos que nome teria meu irmão que ela esperava. Eu como terceiro membro da família fui consultado. Minhas sugestões consistiam em nomes de coleguinhas da escola, daqueles de quem mais gostava. Meu universo, então, era bem restrito. Lembro de sugerir Ricardo, e Carolina, não se sabia naquela época o sexo do bebê até que este nascesse. Carolina foi rechaçado porque minha priminha que viria a nascer na mesma época se chamaria, Ana Carolina, caso fosse menina. Não lembro se sugeri Alexandre, mas assim foi chamado meu irmão que nasceu em 10 de junho de 1984, um dia depois da Ana Carolina. O que delimita esta lembrança a princípios do ano de 1984, quando eu estava prestes a completar 3 anos de idade. Talvez já tivesse feito, mas acho que não, pois não lembro que minha mãe estivesse com barrigão de 8 meses, mas a memória falha.

16 julho, 2007

Hai-kai #3

Depois da chuva
a bonança.
Deus realmente não se cansa...

17/02/2005

Se és desapegado de dinheiro
de pai rico ou vô milionário
deves ser herdeiro

18/02/2005

Os que torcem contra o vento,
num domingo de sol quente,
choraram com o filho do vento.


20/02/2005

12 julho, 2007

Série séries #6

Seinfeld

Outra série genial. Criada por Larry David e pelo próprio Jerry. Seinfeld é a quintessência da comédia de situações. Um programa sobre o nada, como eles mesmos brincam metalingüisticamente, que acaba sendo sobre tudo e todos. Quem nunca vivenciou uma situação que fizesse lembrar este ou aquele episódio de Seinfeld.

São atores competentíssimos, dando suporte a personagens excelentes (especialmente o quarteto Jerry, George, Elaine e Kramer). O texto é sempre ágil e divertido. O principal roteirista é Larry David, que tem em George Costanza seu alter-ego, e fazia a voz do presidente do NY Yankees. David deixou o programa na sétima temporada e voltou para escrever o último episódio.













Comecei a ver esta sitcom em 1998, na nona e última temporada. Na altura em que vi o episódio final tinha assistido a poucos episódios, mas já tinha me envolvido e sabia que estava testemunhando o fim de algo histórico para a televisão. Depois disso passei a ver as reprises e acho que cheguei a ver todos os episódios das nove temporadas. É uma série que nunca me canso de ver, a qualquer momento que estiver reprisando sou tentado a parar para assistir, e sou bem recompensado.


10 julho, 2007

Hai-kai #2

- E se o Céu caisse
e o Inferno Subisse?
- Aí, teriam duas Terras

Escolher a cor
Colher a flor
presentear seu amor

15/02/2005

O vento entrou
e apagou a vela.
Já era tarde demais


16/02/2005

09 julho, 2007

Hai-kai #1

Olhou e não viu.
Quando viu,
sorriu

11/02/2005

O Cinema dos meus olhos
nos olhos
dos meus amores

Na vibração de milhares
se misturam
dois novos olhares

13/02/2005

06 julho, 2007

Série Hai-kai



Por um período escrevia um Hai-kai por dia.

A tradição do Hai-kai surgiu no Japão, originalmente eram três versos, um verso pentassílabo (5 sílabas métricas), um heptassílabo (7 silabas métricas) e novamente um pentassílabo.
A pronuncia correta é raicu e por razões óbvias usa-se no Brasil, raicai mesmo.

O mais famoso haicai de Basho, o mais famoso poeta japonês, goes like that:

um velho tanque
o sapo pula dentro--
o som da água


Eisenstei para desenvolver sua teoria sobre montagem cinematográfica citou Basho:

Um corvo solitário
sobre um galho sem folhas,

uma noite de outono


"Do nosso ponto de vista, estas são frases de montagem."disse.

O preparador de elenco Sérgio Penna, após um treino, pede aos atores que resumam em um Hai-kai, o sentimento deixado pela cena, e o utilizem posteriormente ao filmar.

Vou publicar aqui alguns dos Hai-kais que criei naquela época,
enjoy.

22 junho, 2007

100 anos... 100 filmes, 10 anos depois


O AFI (American Film Institute) divulgou sua nova lista de melhores filmes americanos de todos os tempos. Incrível que já tenha quase dez anos que eu acompanho esta lista. Quando tive o primeiro contato com a lista anterior tinha assistido a trinta e poucos dos 100, hoje cheguei aos 78. Desta lista atual já vi 80 títulos. É uma lista conservadora e permeada por interesses comerciais, mas a gente se diverte, e acaba conhecendo coisas boas.

Sobre as novas entradas na lista, muitos dos antigos não vi, mas "12 Angry Men" (Doze homens e uma sentença), "Who's Afraid of Virginia Woolf?" (Quem tem medo de Virginia Woof?) e "Spartacus" demorou! Dos pós-1998, discordo de quase todos, talvez "O Senhor dos Anéis : A sociedade do anel" merecesse sim, mas e as outras duas partes? Difícil avaliar um filme de três partes.

Who's Afraid of Virginia Woolf?SpartacusThe Lord of the Rings - The Fellowship of the Ring

Acho uma pena terem saído da lista "All quiet on the western front" (Sem novidades no Front) um excelente filme de guerra de 1930, "Fargo" outro dia revi e gostei muito mais que da primeira vez, "Frankenstein" sempre um clássico, "Stagecoach"(No tempo das diligências) - um marco de John Ford, com a consolação de "The Searches" (Rastro de ódio) outro western de Ford ter subido 84 posições. Saiu "A place in the sun" (Um lugar ao sol) adaptação de
George Stevens para o clássico de Murnau "Sunrise"(Aurora) que entrou agora. Stevens também ficou de fora com "Giant" (Assim Caminha a Humanidade), com James Dean, ator que ficou fora com outro filme seu "Rebel without a cause"(Juventutde Transviada). Outro que dançou foi Frank Sinatra, o old blue eyes teve seus dois filmes eliminados, "From here to eternity" (A um passo da eternidade), "The Manchurian Candidate"(Sob o domínio do mal).



















Dos meus favoritos "The Graduate" (A Primeira Noite de homem) saiu do top 10, mas em compensação "Raging Bull" (Touro Indomável) subiu 20 posições e ficou em quarto, desbancando o chato "Gone with the wind"(E o vento levou). Charlie Chaplin finalmente teve vez com seu belíssimo "City Lights"(Luzes da Cidade) subindo 65 posições e quase fazendo o top 10. E "The Godfather" (O Poderoso Chefão) ficou em segundo, afinal "Citizen Kane" (Cidadão Kane) é mesmo imbatível.

15 junho, 2007

Pequenas Lembranças #5

Cheiro

Um dos cheiros mais marcantes da minha infância é o que exalava de uma planta que havia na casa da minha avó paterna, numa varandinha do seu apartamento no Cruzeiro. Não sei que planta é, que nome lhe dão. Lembro que era de um verde escuro, e a folhas tinham um aveludado curioso para uma criança.

Fato que é que estas coisas estão coladas, o cheiro da planta, a casa da vovó, minha infância.

08 junho, 2007

Pequenas Lembranças #4

Xixi

Quando era pequenino, não sei se por um senso prático (o que se aproxima muito de preguiça) ou o quê, gostava de fazer xixi num ralinho que havia na área de serviço do apartamento (a bem da verdade era o mesmo cômodo que a cozinha). Na minha cabeça não fazia a menor diferença, o xixi ia para o esgoto do mesmo jeito. Ainda ficava orgulhoso por não ter respingado nada para fora do ralo, o que era facilitado por minha baixa estatura.

Minha mãe, claro, não gostava da idéia. Depois, passei a fazer meu xixi no bidê, gostava também de mirar bem no ralinho. Parece que eu não gostava mesmo de dar descarga, ou levantar a tampa do vaso, qualquer coisa que dificultasse o processo. Talvez já fosse um senso de economia, já que hoje acho um absurdo o tanto de água tratada que se gasta em descargas por aí.

Um dia, já estava ficando maiorzinho, fiz uma promessa se não me engano a Nossa Senhora, de que não faria mais xixi no bidê. Foi a única maneira de cortar esse meu curioso hábito.

06 junho, 2007

Série séries #5

Jornadas nas Estrelas "Star Trek"

Esta é uma série genial. Foram apenas três temporadas, e o sucesso mesmo só veio com as reprises. Hoje Jornadas nas Estrelas faz parte do imaginário social mundial.

A cada episódio vivíamos junto com a tripulação da Enterprise uma aventura diferente, indo aonde nem homem jamais esteve. As aventuras eram narrativamente muito bem amarrados, e cativantes, com todos os elementos que viriam a influenciar produtores nos anos vindouros.A série criada por Gene Roddenberry deu origem a uma legião de aficcionados, a mais de um dezena de filmes para o cinema, e um bocado de séries spin-offs.

Tem ainda o detalhe de que nesta série ocurreu o primeiro beijo interracial da TV americana, entre Uhura e Kirk.


Assisti a Star Trek numa época muito gostosa da minha vida, logo antes da faculdade, quando ficava em casa durante o dia, e podia ver as reprises na Band, as onze da manhã.
Como não se apaixonar por senhor Spock, doutor McCoy, capitão Kirk...

Pequenas Lembranças #3

O Prédio

No prédio onde morávamos no Barroca, na Rua Amparo, havia muitas crianças. E meus vizinhos vinham bater na minha porta, me chamar para brincar. Não me lembro de alguma vez ir eu mesmo chama-los. Muitas vezes ficava feliz com o convite, mas às vezes ficava com preguiça. Perguntava a minha mãe se podia, poucas vezes ela negava. Nosso playground era a área de manobra da garagem do prédio. Não lembro bem do que brincávamos, sei que pique-pega era um dos favoritos, e jogos com bola eram mais raros. Tínhamos um vizinho de muro, onde a bola sempre caia, era uma luta recuperá-la. Ainda não entendo tamanha impaciência com bolas extraviadas. Minha vó contava histórias medonhas de tempos remotos em que o vizinho intolerante furava a bola com uma faca diante dos olhos atônitos dos meninos.

Outra vedete eram os bonequinhos do He-Man e sua galeria de vilões e aliados. Tínhamos também espadas, dos ThunderCats e do He-Man, com as quais travávamos batalhas das quais não gostava muito. Lembro de pelo menos uma vez ir brincar no prédio em frente ao nosso.

Fazíamos nossas festas de aniversário também na garagem, todos os moradores tiravam seus carros e decorávamos o lugar para receber os convidados. Hoje em tempos de individualismo exacerbado, acho que tal coisa deve acontecer menos e menos.

Mudei deste prédio aos 7 anos, já com dois irmãos.

05 junho, 2007

Pequenas Lembranças #2

Sorvetinho

Da minha primeira escola pouco lembro, ficava mais embaixo na minha rua mesmo a Amparo. Lembro ter dificuldade com seu nome, sempre confundia com Sovertinho, algo que acabo de constatar, ainda me acontece. Uma leve dislexia (a exemplo de Saramago) sempre me perseguiu. Quando criança dizia Mánica, ao me referir às maquinas, e caçapete ao referir ao equipamento de segurança. Não consta que fizesse o erro clássico de chamar aquela praga dos cinemas de popica. Depois da alfabetização passei a confundir “V” com “F” amiúde, até hoje me acontece de quando em vez e tenho que pensar em palavras óbvias como FACA e VACA ou FOGO, etc. Às vezes acontece com T e D, e outras letras também.

Foi no Sorvetinho com meu uniforme azul claro axadrezado, e quichute(?) amarrado canela acima, que tive minhas primeiras aulas, mas devo dizer que não recordo de nem um momento dentro da sala de aula. Lembro sim do pátio externo, uma garagem que com segurança é muito menor que minhas lembranças. Ali havia um espaço que lembrava uma caverna e o era na imaginação das crianças, o tanque de areia, brincadeira recorrente, alguns brinquedos clássicos (balanço com certeza, escorregador por intuição).

No terraço me lembro de dançar quadrilha, e de estalar a língua reproduzindo os movimentos dos dedos, uma vez que não consegui tirar nenhum som deles como pedia a coreografia. Outro dia memorável era o de banho de mangueira, sempre aguardado com ansiedade. Levávamos calção de nadar e toalha e nos divertíamos.

Ali conheci a Marina, como prova a fotografia carnavalesca, claro que não me lembro, e só uma série de eventos futuros pôde transformar este fato em uma coincidência. Mais ou menos quinze anos depois viemos a ser colegas na escola de Teatro e nos tornamos amigos, encontrando mais tarde provas deste encontro prévio. Além da foto, um presente que ela me dera, com dedicatória assassinada, evidentemente na caligrafia de sua mãe.

04 junho, 2007

Série séries #4

Sliders - Dimensões paralelas

Mais uma série que passava no USA, no sábado Sci-Fi. Era bem legal, com histórias em realidades paralelas. No elenco tinha o Jerry O'Connel, fazendo o Quinn Mallory, que ameaçou estourar como astro mas não vingou. Ele foi ator mirim, participou do "Conte Comigo (stand by me)" com o River Phoenix e tal.

A série foi mais uma das que começou legal e depois se perdeu, assisti só às primeiras temporadas mesmo. Outro dia revi o piloto e é realmente bem interessante.

Pequenas Lembranças #1

Choro

Não sei precisar qual é minha lembrança mais antiga. No correr dos anos acabamos por recordar, com certa acuidade, de fatos banais, sem, contudo, guardarmos registros de eventos julgados importantes.

Obviamente, não me lembro do meu nascimento, nem de meus primeiríssimos anos neste mundo. Todavia, sempre fez parte de minha vida os relatos deste período, em que eu, sem explicação definitiva, chorei como poucas crianças o fizeram.

Nasci num dia 13 de maio, uma quarta-feira, às 15:50, depois de fazer minha mãe sofrer em demorado trabalho de parto. Foi no Hospital São Lucas, na região hospitalar de Belo Horizonte. Minha primeira residência foi num apartamento de três quartos na Rua Amparo (belo nome), foi pra lá que fui e lá que chorei todas as noites por anos (!) a fio.

No primeiro mês, esteve em nossa casa, minha avó materna, que vive no interior. Cabe dizer que sou o primogênito, assim como meu pai e minha mãe, sou então o primeiro neto de ambos os lados da família. Ao cabo do mês de assistência, retornando para Divinópolis, chorava minha vó, choravam minha mãe e meu pai, e claro chorava eu.

Uma noite estava eu quieto no bercinho ao lado da cama de meus pais. Tamanha a estranheza da situação que minha mãe ficou desconfiada. Receosa de que algo trágico houvera sucedido pediu a meu pai que verificasse se estava tudo bem com o pequeno ser. Pois no escuro do quarto e no torpor do sono, meu progenitor dá uma topada com o pé no pequeno berço, pondo-me a chorar até o raiar do dia.

Muitos casos ainda constam de meus choros intermináveis e inexplicáveis. E nos anos seguintes, cada nova pessoa que entrava em nossa vida, tinha por obrigação de ouvir as histórias, que pareciam inverossímeis, de um bebê inquieto que se convertera em uma criança tão calma. Reza a lenda que só parei de chorar quando comecei a freqüentar o jardim de infância.

Nova série de postagens

Inspirado pelo mestre Saramago e seu “As pequenas memórias”, resolvi iniciar aqui uma série de textos sobre meus primeiros anos de vida. Não sou saudosista da minha infância, nem tive uma que fosse extraordinária em nenhum aspecto. Lendo as memórias de José Saramago, simplesmente Zezito à época, descobri que lembro bastante coisa destes meus primeiros anos. E escrevo sobre eles neste espaço, mais para mim que para os outros.

31 maio, 2007

Série séries #3

Early Editon

"O que você faria se soubesse sem dúvidas o que acontecerá amanhã?" Essa era a pergunta que abria cada episódio de Early Edition.
Gary Hobson (Kyle Chandler) recebe toda manhã o jornal do dia seguinte, daí assume a postura de herói e começa a correria para tentar evitar que tragédias noticiadas aconteçam de fato.

Assiste à série em 1997, 1998. A primeira temporada foi muito boa, com ação em cada episódio, além do drama do personagem principal, circundados pelo grande mistério de onde surge o jornal. Depois se perdeu um pouco, e não cheguei a ver até o final pra saber se tivemos a resposta do grande mistério.

Pela primeira vez vi que uma série de TV pode ser muito melhor que muito filme que soltam por aí. A série chegou a ser exibida aqui, pela Record, com o nome de "Edição de Amanhã". Continuo achando o Kyle Chandler um bom ator, ele faz o ator afetado no novo King Kong, e muito carismático em cena. E o Fisher Stevens é engraçado no seu tipo de humor específico.

30 maio, 2007

Série séries #2


Sonhando Acordado "Dream on"

Esta série era exibida no antigo canal USA, produzida pela HBO. Foi criado por David Crane e Marta Kauffman, sim os mesmos Friends.

É uma sitcom, sobre Martin Tupper um cara que cresceu vendo TV, e então seu pensamento e pautado por imagens clássicas de programas televisivos. Tem um texto muito bom e um trabalho de pesquisa e edição fantásticos. Durou seis temporadas na HBO americana, e por ser em TV fechada tinha cenas de nudez e linguajar "inapropriado", teve uma temporada exibida na FOX (TV Aberta), editada.

Assisti muito essa série em 1995, 1996 com o pesar de que era transmitida dublada no Brasil.

29 maio, 2007

Série séries

Sou muito crítico à televisão hoje em dia, principalmente os canais abertos brasileiros. Mas na minha vida já vi muita televisão, e muito "enlatado" americano, que afora preconceitos são as melhores coisas que a TV de entretenimento tem produzido nestes últimos 50 anos.

Vou falar um pouquinho de cada série que acompanhei com mais afinco até hoje.

Para começar: Anos Incríveis "The Wonder Years"

Tinha lá meus treze anos em 1994, e a série passava no TV Cultura, alguns amigos acompanhavam e eu não tinha muita disposição de assistir (Eu via mais "Confissões de Adolescente").

Comecei a acompanhar mais quando passou a ser transmitido pela Band e quando adquiri o Multishow. Creio que vi então todos os episódios.


Acompanhei Kevin Arnold crescendo e vivendo fases muito parelhas à minha própria vivência.
Uma série absolutamente marcante, com um final digno, e ainda me ajudou a aprender inglês.

23 abril, 2007

Oração a São Jorge

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

São Jorge Rogai por Nós.

Verdade arde
não se apaga
mas algo haverá que a pague

18 abril, 2007

Saramago e eu

"Porquê este meu temor aos cães?[...]
O receio, que hoje ainda, apesar de algumas harmoniosas experiências vividas nos últimos tempos, mal consigo dominar quando me vejo perante um representante desconhecido da espécie canina[...]"


José Saramago em As Pequenas Memórias

12 abril, 2007

Mais sobre "Batismo de Sangue"

"A arte brasileira se adianta ao governo e escancara os bastidores da ditadura. Este é um filme a ser visto especialmente por quem não viveu os anos de chumbo. Ali está o estupro da mãe gentil, gigante entorpecido, o Brasil sem margens plácidas, arrancado do berço esplêndido, resgatado à democracia pelos filhos que, por amor e esperança, e sem temer a própria, não fugiram à luta.
Batismo de Sangue é um hino à liberdade."
Frei Betto

22 março, 2007

14 março, 2007

O que quero para mim: o último jardim onde não há mais jasmim, e o jardineiro vive tão só como o faroleiro, mas é feliz mesmo assim.

08 março, 2007

"No andar de cima, o Brasil precisa de reforma política; no de baixo, da reforma agrária. Fora disso, o resto é palavrório eleitoreiro, pura engabelação para iludir os incautos."
Frei Betto

27 fevereiro, 2007

Sobre o Oscar

Diferente da maioria das pessoas, gosto de assistir à cerimônia de entrega dos Oscars. Ela é sempre longa e cheia de momentos aborrecidos, mesmo assim me divirto. Há sempre momentos que valem à pena, este ano não houve muitos, contudo.

Foi bacana e caprichado os números de luz e sombra representando os filmes.

O discurso do fotografo (me parece que ele é argentino) de “O Labirinto do Fauno” (bom ver a consagração do filme com três prêmios) foi emocionado e valeu, embora torcesse por “Filhos da Esperança”.

Muito bonitinha a Abigail Breslin de “Pequena Miss Sunshine” na platéia.

Gostei de Alan Arkins ter levado e não Eddie Murphy como se esperava.

Tocante o momento em que a montadora Thelma Schoonmaker foi receber o prêmio por “Os Infiltrados” e da platéia vimos Martin Scorsese em lágrimas.

O discurso do Forest Whittaker sobre a arte do ator foi bonito, embora piegas ao remeter à sua infância.

Enio Morricone, um monstro da Trilha Sonora (“The good, the Bad, the Ugly” é impagável, servindo até de abertura para os shows dos Ramones), premiado pelo conjunto da obra, discursou em italiano, muito legal!

Há um tempo venho notando que os filmes que levam os prêmios de roteiro (original, adaptado), são de fato os filmes mais interessantes do ano (nem sempre são os que levam melhor filme). Com isso foi ótima a conquista de roteiro original pelo inteligente, tocante e engraçado “Pequena Miss Sunshine”. Já em roteiro adaptado me decepcionei com a premiação de “Os Infiltrados” que primeiro: viria a ganhar também melhor filme, e segundo: foi adaptado de um outro roteiro o que parece tarefa mais simples que adaptar um livro ou peça. Preferia ter visto “Filhos da Esperança” ou “Pecados Íntimos” saindo com o Oscar.

Por fim três figuras icônicas do cinema norte-americano (Coppola, Lucas, Spielberg) entregando o Oscar para Scorsese (para mim o melhor). E a Diane Keaton ao lado do careca Jack Nicholson (será que ele vai entregar melhor filme todo ano agora) consagrando “Os Infiltrados”, meu preferido dentre os cinco, junto de “Pequena Miss Sunshine”, que na verdade não tinha banca para levar o prêmio.

09 fevereiro, 2007

Quando secar o rio da minha infância

secará toda dor.

Quando os regatos límpidos de meu ser secarem

minh'alma perderá sua força.

Buscarei, então, pastagens distantes

– lá onde o ódio não tem teto para repousar.

Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.

Todas as tardes me deitarei na relva

e nos dias silenciosos farei minha oração.

Meu eterno canto de amor:

expressão pura de minha mais profunda angústia.


Nos dias primaveris, colherei flores

para meu jardim da saudade.

Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio."

Frei Tito – Paris, 12 de outubro de 1972

malvados

02 fevereiro, 2007

Sobre Tiradentes

Não. Não boicotei a 10ª. Mostra de Cinema de Tiradentes. Fui até lá, fiz uma oficina com Joel Pizzini, que foi muitíssimo válida. Ele é um profissional e tanto, tem um ótimo trabalho, muito sensível e peculiar, subvertendo o documentário tradicional. Uma oficina tão boa quanto a que fiz ano passado – Roteiro, com Di Moretti. Bom saber que o Brasil tem bons profissionais, ainda desconhecidos e mal pagos.

A Mostra de vídeos foi bastante irregular, a bloco de ficção que vi foi bem fraco, parecia querer abarcar realizadores de diversos estados, resultando confusa e mal programada. Os blocos de vídeos experimentais são bem difíceis para o público geral, e foi quando mais vimos produções de Minas.

Pela primeira vez foi permitida a exibição de longas-metragens finalizados em vídeo, o que é bom, mas abre espaço para produções um tanto herméticas para um Mostra de caráter popular com a de Tiradentes. “Cartola” foi exibido em BetaCam, com sérios problemas de áudio, o que levou o documentário a ser re-exibido em horário alternativo.

O Cine-Praça só aconteceu no meu último dia lá, com a exibição de “Antônia”, e pelo que sei a chuva só permitiu, antes, a projeção do vencedor do júri popular “Noel, o Poeta da Vila”. Outro ponto negativo foi a cerimônia que pretendia homenagear os artistas da década. Foi, segundo li, um evento longo e constrangedor, que igualou os artistas homenageados a políticos e patrocinadores, os verdadeiros bajulados pela produção.

O ponto alto ficou mesmo por conta de “Batismo de Sangue”. Desde o bate-papo antes da exibição, ficou clara a importância histórica, humana, artística do filme. A presença e os depoimentos dos Freis e de parte do elenco e equipe foram tocantes. Na sessão lotada o público foi contemplado com um filme belo, correto e transformador. Acredito que um filme – como toda obra de arte – só pode ser tocante e transformador na medida em que o artista que o executa seja transformado no processo. O que é patente nesta obra.

22 janeiro, 2007

II

O avô conheceu a avó na feira da cidadezinha onde ela nasceu e aonde ele foi à procura de mercado para suas figuras de madeira então restritas a pequenos macacos, ora num galho, ora não. Ela vendia suas prendices para ajudar em casa. Ele conseguiu um lugar para expor pagando caro a um velho poderoso da região, desfez sua poupança apostando que conseguiria fazer outra maior. Apostou e ganhou, em menos de um ano era o artesão mais prestigiado da região. Com o tempo, passou a fazer gatos e pássaros e jacarés e onças, e qualquer tipo de animal que lhe encomendassem. Casou-se com a esperança de ter um filho homem. Teve sorte, o primogênito foi um varão, e seria o único. Morreu de repente, abraçado a um leão semi-acabado. Seu filho tinha somente dois anos e foi o primeiro a encontrá-lo ali, pensaria que o pai estava tentando domar o leão selvagem, mas ainda era muito novo para tanta imaginação.

19 janeiro, 2007

I

Era uma família de artistas.

O avô era um artesão que talhava na madeira animais em paisagens inverossímeis. A avó faz tricô desde os dez anos de idade, borda desde os dozes, hoje completa a pensão deixada pelo marido fazendo barras de crochê em panos de prato e toalhas. O pai, filho único, é um pintor de cores, de pessoas sem rosto, mas cheias de personalidade, de um realismo que beira o abstrato. Casou com uma dançarina, a mãe, que depois de parir o sétimo filho foi-se embora para a Espanha com um dançarino de flamenco com quem faz apresentações pelas ruas de Sevilha.

Hoje vivem os nove numa casa que apenas comporta suas artes.

7 - E&G


A manhã estava clara e promissora, a família toda animada para a festa. Cada um tinha
seu motivo próprio. D. Nena, a avó estava ansiosa por ver mais um neto
experimentar pela primeira vez o corpo de Cristo. Jonas, o pai sempre se
esbalda nestas festas de família, adora ver os primos, azucrinar os cunhados,
atiçar as meninas. Nívea, a mãe que preparara com esmero a festa esperava a
repercussão do evento. Lucas que freqüentou por dois anos o catecismo, para
preparar-se para esse momento da primeira Eucaristia,
não sabia o que esperar, nem bem se importava, tinha preguiça de ter de receber
tantos comprimentos de gente que ia dizer: olha como cresceu; ficou a cara da
mãe; é o pai escrito; já é um homenzinho. Mas nenhum desses personagens será o
alvo das atenções dessa história, nem serão eles os para sempre lembrados nas
reuniões vindouras e até em outros círculos onde sempre há um que conhece
alguém que estava ali naquele domingo de sol.


A cerimônia correu em sua naturalidade, gente contando piada do lado de fora da igreja,
gente chorando, um bando de meninos cantando desafinados. E depois dali toda a
família e amigos rumaram para a casa de campo de Jonas. O ambiente estava
diferente do usual, com trigos por toda parte, cruzes e anjos que davam um ar
mais sacro ao local. Mas o que estava para acontecer era muito mais profano que
sagrado, mais vicioso que virtuoso. Até o meio-dia nada de anormal, foi aí que
Nívea começa a chamar os convidados para o almoço, a mesa estava bonita e
apetitosa, pratos para todos os gostos. Como era comum, os mais idosos se
sentaram e se serviram primeiro, seguidos logo pelas crianças, os jovens não
pensavam em almoçar e os adultos não deixariam a cerveja pelo jantar tão cedo.
Mas havia uma exceção, um sobrinho de Jonas, o que não era de se estranhar,
pois com seus 16 anos de idade já pesava 120kg. Mantê-los não deve ser fácil.
Pois o rapaz se sentou ali e começou com uma discreta salada, o que não
causaria espanto em quem o conhecesse, pois seguro que ele não ficaria só
nisso. Dito e feito logo comeu dos pães dos quais havia toda sorte, servidos
com toda a variedade de patês. Isso acompanhado de refrigerante, às vezes suco.
E as pessoas se sentavam, comiam, se levantavam e ele continuava ali, comendo
como quem começara agora. E comeu da picanha, da massa, strogonoff de carne, de
frango. Por vezes voltava à picanha ou à galinha. Não era muito notado, de quando
em quando passava uma velha e dizia: ô beleza! Dá gosto de ver esse menino
comendo. Um homem obeso perguntava: o que você recomenda garoto? E ele não
parava e a comida não faltava, as festa de Jonas e Nívea eram famosas pela
fartura. Até que os adultos em elevado grau de embriaguez finalmente resolveram
almoçar ou jantar se preferirem dado o avançado das horas. E o garoto, pelos
olhos dos homens, estava ali para comer pela primeira vez, pela única como
diria a lógica. Até o último bebum comeu, o suficiente para curar a bebedeira,
e bateu nos ombros do garoto: Você come muito devagar! Sem se dar conta de que
no tempo em que ele comia sua canja de galinha o garoto tinha comido três vezes
mais. Foi só então que se notou que algo estranho acontecia, a empregada já
queria limpar a mesa, guardar as sobras na geladeira, e o rapaz lhe pediu que
deixasse que ele terminaria com o resto. Uma tia interveio: Mas você não vai
dar conta, e não precisa amanhã a gente dá pro caseiro. O garoto só respondeu
abraçando a travessa de lasagna. Daí começam os cochichos: ele já está comendo
há duas horas. Que nada, há mais tempo! Será que ele não tem comida em casa!
Tem de ter, né, senão não seria tão gordo. Gordo não obeso, retrucou uma tia
acima do peso. E quando toda a atenção se voltou para os rumores e o garoto foi
esquecido, ouviu-se um barulho, que mais tarde ia ser caracterizado como: um
vulcão em erupção; mar em dia de ressaca; a pororoca do São Francisco, mas
nenhum fenômeno da natureza foi tão assombroso para aquela gente quanto o que
se viu ali. Aquela montanha de gordura e banha jazia ao lado da mesa. De pronto
uns homens se arriscaram a tentar levanta-lo, em vão. O rosto estava virado
para o chão e na mão segurava uma coxa de galinha, escorria uma poça de um
líquido que alguns mais desesperados pensavam ser sangue, mas não passava de
Coca-Cola. Alguns gritavam seu nome, qual era seu nome não importa, as lendas
não precisam de nomes, são chamadas do modo que queira quem conte a história. O
que passou depois disso ninguém sabe ao certo, o boca a boca criou diferentes
versões, cada um aumentava um ponto como deve um bom contador de histórias, e
disso eu não me redimo. Alguns dizem que ele morreu e foi preciso chamar os
bombeiros para leva-lo à funerária. Os mais simplórios dizem que foi congestão,
outros dizem que ele vomitou toda aquela comida, que era tanta que o pulmão não
agüentou o esforço. Seus seguidores falam que ele engasgou com o osso de
galinha, que comida ele agüentava muito mais. Uma versão mais bizarra, mas que,
entretanto conta com muitos adeptos, diz que ele foi levado para casa e acordou
um tempo depois, contudo tomado pela vergonha não quis sair dali e passou a não
suportar mais nem ver comida, com isso foi emagrecendo, tanto ao ponto de
morrer anorexo.




O fato foi que nunca mais houve uma festa de Jonas e Nívea, que nunca tocaram no assunto. Tentaram vender a casa de campo, mas não se encontrava pretendente na região.
Lucas nunca mais foi à Igreja, nem para casar. Mas essa história estava sempre
na boca dos Padres que nas predicas a usavam para mostrar como o pecado da Gula pode ser danoso.